Tinha acabado de chegar em casa e estava prestes a subir pro quarto quando meu celular tocou, olhei no visor e era da casa do Luan.
-Alô?
-Jéssica? Ouvi a voz da Mari e um barulho de choro.
-Mari, sou eu. O que aconteceu? Senti minhas pernas tremerem.
-A Malu Jéssica. Ela caiu e bateu a cabeça. Ela parecia desesperada e por não sentir mais minhas pernas, me sentei no degrau da escada. -O Luan tá levando ela pro hospital e pediu pra você levar os documentos dela. Subi rapidamente para o quarto e enquanto Mari me passava o endereço do hospital, eu pegava as coisas de Malu e colocava dentro da bolsa. Finalizei a ligação e desci aos prantos correndo.
Não estava em condições de dirigir, mas não aguentaria esperar um táxi. Pisei no acelerador, passei alguns sinais e isso com certeza me renderia alguma multa, mas não estava me importando com isso. Cheguei no hospital e avistei Mari na recepção.
-Cadê minha filha? Perguntei entre soluços.
-Levaram ela pra fazer alguns exames. O Luan tá naquela sala com o Amarildo. Ela apontou uma porta, entreguei a bolsa com os documentos de Malu pra ela e corri até a sala que ela havia indicado. Abri a porta bruscamente assustando os dois que estavam ali dentro, Luan sentado com os cotovelos apoiados nas pernas e o rosto entre as mãos e seu Amarildo tentava consolá-lo.
-Você é mesmo um irresponsável. Avancei nele que levantou na mesma hora. Seu Amarildo me segurou impedindo que eu lhe acertasse uns bons tapas.
-Calma Jéssica! Eu não tive culpa, foi um acidente.
-Você não teve culpa? Ri sarcástica. -Foi um acidente? Que tipo de pai você é que não tem competência nem pra cuidar da sua filha? Seu Amarildo ainda me segurava e me sentou num banco ali na sala.
-Ela só vai fazer uns exames porque bateu a cabeça, mas ela está bem. Seu Amarildo tentava me confortar.
-Se ela estivesse bem não estaria num hospital. Disse um pouco grossa, talvez por conta do nervosismo. Mari entrou na sala me entregando a bolsa e um copo com água, Luan me olhava impaciente e eu o fuzilava, seu Amarildo percebendo o clima que estava ali, saiu puxando o filho antes que eu o matasse. Agradeci por isso, não estava suportando olhar pra cara dele. Mari se sentou ao meu lado e começou me contar como tudo tinha acontecido e minha raiva aumentou ainda mais quando ela disse que Luan estava respondendo umas mensagens no celular quando Malu escorregou. Podia jurar que ele estava conversando com alguma vagabunda, do contrário ele não estaria tão distraído assim. A porta se abriu e um médico entrou na sala juntamente com Luan e seu Amarildo, fuzilei Luan e só não o matei porque precisava saber como estava minha filha.
-Como está minha filha? Luan perguntou na minha frente.
-Ela está bem agora. O médico sorriu e eu respirei aliviada.
-Ela já pode ir pra casa? Perguntei.
-Assim que terminar a medicação que ela está tomando pode. Já estou indo assinar os papéis da alta.
-Posso ver minha filha? Perguntamos juntos.
-Podem. O médico sorriu e nos levou até o quarto onde Malu estava. Ver minha filha deitada naquela cama cortou meu coração e fez minha raiva de Luan aumentar ainda mais.
-Tá vendo o que você fez? O encarei nervosa com lágrimas nos olhos.
-Já disse que não tive culpa Jéssica.
-Podia prestar mais atenção na sua filha ao invés de ficar de conversinha no celular.
-Não vou ficar discutindo com você. Ia continuar com a discussão mas Malu acabou acordando me impedindo de continuar.
-Mamãe. Ela abriu os olhinhos e falou fraco.
-Oi meu amor. Sequei as lagrimas e segurei sua mãozinha.
-Porque você tá chorando?
-Por nada não minha linda. Fica quietinha fica. Pedi e ela sorriu pro Luan.
Ficamos um tempo em silencio e Malu se manifestou de novo.
-Quando eu vou pra casa?
-Daqui a pouco o médico vem te dar alta e a gente já vai pra casa princesa. Respondi.
-Ela vai voltar pra minha casa. Luan retrucou.
-Mas não vai mesmo! O encarei.
-Não vamos começar com essa discussão Jéssica. Ele me encarou de volta.
-Só se eu estiver muito louca pra deixar minha filha voltar pra sua casa.
-Eu já disse que...
-Mamãe, eu quero ir pra casa do papai. Malu nos interrompeu manhosa.
-Mas filha, olha o que aconteceu.
-A tia Bruna disse que ia me ensinar fazer trança nas minhas bonecas.
-Filha? Supliquei.
-Por favor mamãe? Eu prometo que não vou ficar perto da piscina. Respirei fundo algumas vezes e acabei cedendo. O silencio voltou reinar naquele quarto e só foi quebrado depois que o médico entrou dando alta pra Malu e depois de suas recomendações conseguimos ir embora com nossa filha daquele hospital.
-Eu acho melhor ela ir pra minha casa. Comentei enquanto Amarildo colocava Malu na cadeirinha.
-Ela já fez a escolha dela Jéssica. Luan retrucou.
-Ela é uma criança, não tem idade de fazer escolhas. O fuzilei.
-Fica tranquila querida. Eu vou prestar mais atenção nela. Mari sorriu me confortando.
-Isso me deixa muito mais tranquila, porque se for depender de certa pessoa. Metralhei e Luan revirou os olhos e respirou fundo. -Qualquer coisa a senhora me liga? Pedi.
-Ligo sim, pode deixar. E você também pode ligar ou aparecer a hora que quiser. Ela disse simpática e vi Luan balançar a cabeça negativamente entrando no carro. Entreguei a receita para Mari que entrou também em seguida, segui para o meu carro e tomei o rumo de casa com o coração na mão por não estar com minha filha.
...
O clima entre Luan e eu estava cada vez mais pesado e essa situação estava ficando cada vez mais insustentável.
-O que você tá pensando em fazer? Marcela perguntou depois de mais uma de minhas reclamações em relação à ele.
-Não faço ideia Marcela. Eu definitivamente, não sei o que fazer. Sacudi a cabeça em desespero.
-Só não vai fazer nenhuma besteira.
-O que eu não posso é deixar minha filha desse jeito. Olhei Malu deitada no sofá inconsolável pois o pai havia prometido levar ela para a chácara e simplesmente não apareceu.
-Você ligou pra ele? Perguntou o que aconteceu?
-O que aconteceu foi que ele pouco se importa com a filha. Me irritei. -Não é de hoje que tenho notado o quanto ele está frio e distante da menina. Agora me diz. O que ela tem a ver com nossa separação? Nosso namoro acabou mas ela vai continuar sempre sendo filha dele.
-Eu sei disso amiga.
-Você sabe, mas ele não. Ele tem tempo pra tudo e pra todos. Mas pra filha ele não tem? Vive desfilando por ai, cada dia num lugar diferente e quando é pra ficar com a menina ele simplesmente some e quando aparece vem com a desculpa esfarrapada de que estava ocupado.
-Fica calma Jéssica, você vai assustar a Malu. Marcela pediu e eu respirei fundo tentando me acalmar.
-Minha filha não merece passar por isso.
-Você está assim só por que ele não veio buscar a Malu ou tem mais algum motivo pra tudo isso? Questionou.
-Que motivo mais eu teria Marcela.
-Não sei ué. Deu de ombros. -Ontem apareceu umas fotos dele com uma...
-Eu quero que ele se foda Marcela! Acha que ainda me importo com quem ele fica ou deixa de ficar? A encarei. -Por mim ele que fique com quem ele quiser mas que cumpra com o que ele prometer pra menina. Se não queria levar ela nessa viagem, porque prometeu que levaria?
-Ele pisou mesmo na bola, mas depois do episódio da piscina, você ia mesmo deixar a Malu viajar com ele?
-A Mari e a Bruna também foram.
Marcela me ajudou colocar a mesa do almoço e depois que Neide serviu nos sentamos pra comer. Malu, pra variar quase não tocou na comida, ela estava assim desde que o pai foi para a chácara e não a levou.
-Come mais um pouquinho filha. Insisti pela milésima vez.
-Eu não quero mais mamãe. Choramingou e eu desisti.
Marcela foi embora assim que terminamos de almoçar, e depois de tomar um banho Malu dormiu. Erick me ligou e insistiu pra que fossemos jantar fora, neguei pois não estava afim de sair e na situação que minha filha estava, seria injusto deixá-la sozinha.
-Não vai nem pra boate hoje? Ele perguntou.
Não! Respondi decidida.
-Posso passar na sua casa mais tarde então?
-Se for só uma passadinha rápida pode. Não sou um boa companhia hoje.
-Você sempre é boa companhia Jéssica. Mas prometo que vou ser rápido. Só quero te ver.
-Tudo bem então!
Finalizamos a ligação e liguei na boate avisando que não iria hoje. Me mandaram alguns pedidos por e-mail pra que eu pudesse confirmar ou mudar alguma coisa e fiquei a tarde toda avaliando aquilo.
Erick chegou por volta das 8 da noite, Malu já havia jantado e estava deitada no sofá assistindo televisão.
-Oi bonequinha. Erick disse simpático e Malu lhe respondeu com um oi seco. Estava começando achar que Malu não ia muito com a cara dele. -Olha o que eu trouxe pra você. Ele estendeu uma caixa de chocolate na direção da minha filha.
-Eu não gosto de chocolate. Malu continuou prestando atenção na tv e negou o presente. Mas como assim não gosta de chocolate? Claro que ela gosta de chocolate.
-Eu vou guardar, depois ela come. Sorri tentando quebrar o clima chato que estava ali. Erick me acompanhou até a cozinha e se sentou em um dos bancos em frente o balcão.
-Ela não gosta de mim né?
-Nada a ver seu bobo. Disfarcei. -Ela não está nos seus melhores dias. Torci a a boca numa careta. Expliquei pra ele o que estava acontecendo e ele não insistiu mais no assunto. Conversamos um pouco e voltamos pra sala. -Que tal a gente assistir um filme? Sugeri olhando pra Malu.
-Eu vou dormir mamãe. Ela se sentou no sofá.
-Mas já filha? Amanhã é sábado, pode ficar acordada mais um pouco. Me sentei ao seu lado e alisei seus cabelos.
-Eu tô com sono. Encarou Erick e se levantou me dando um beijo e subindo em seguida.
-Não posso ficar pro filme morena. Erick beijou meu pescoço.
-Já pedi pra parar de me chamar assim. Fiz bico manhosa, mas realmente não gostava, me lembrava o Luan falando.
-Desculpa. Mordeu meu bico.
-Mas porque não pode ficar?
-Tenho que viajar amanhã cedo. Umas coisas pra resolver no Rio. Fiz careta.
-Ah que pena. Ficamos mais um pouco ali na sala trocando carinhos e logo ele foi embora.
Subi até o quarto de Malu e a encontrei deitada em sua cama abraçada com sua boneca. -Pensei que já estivesse dormindo filha. Entrei e me sentei ao seu lado.
-Eu não tô conseguindo. Fez bico.
-Quer dormir com a mamãe hoje?
-Posso?
-Claro que pode! Vamos. Estendi a mão pra ela e fomos pro meu quarto. Arrumei a cama e deixei minha filha deitada enquanto fui tomar um banho, coloquei o pijama e me deitei ao lado de Malu.
-Mamãe?
-Oi filha. A olhei.
-O papai não gosta mais de mim? Ela perguntou e aquilo cortou meu coração.
-De onde você tirou isso filha? Claro seu pai gosta de você.
-E porque ele não me levou com ele?
-Eu não sei filha. Mas quando ele chegar eu pergunto.
-Eu acho que ele não gosta mais de mim. Ela dizia calma, mas dava pra sentir tristeza em sua voz.
-Seu pai te ama Malu. Disse e ela suspirou.
-Ele nem liga mais pra mim mamãe. Me olhou com os olhinhos tristes.
-Você sabe que a vida do seu pai é uma correria filha.
-Mas ele vive saindo com os amigos dele que eu sei. E porque não sai mais comigo?
-Como você sabe que seu pai sai com os amigos dele?
-Porque eu vejo na televisão. Deu de ombros.
-Nem tudo o que passa sobre seu pai na televisão é verdade filha. Mesmo sabendo que ela tinha razão no que dizia, pois realmente, estava saindo muitas matérias sobre as noitadas do Luan na televisão, tive que inventar alguma coisa. Tentei mudar o rumo daquela conversa e parece ter funcionado, ficamos assistindo um filme até Malu pegar no sono, desliguei a televisão e ali deitada ao lado da minha filha, tentei achar alguma solução para esses problemas. Não podia mais deixar minha filha sofrendo com a ausência do pai. cada dia que passava ele estava mais distante e ela não merecia passar por essas coisas. Luan ia ter que aprender ser mais presente na vida dela, ou se quiser se afastar que se afaste de uma vez e assim não deixar mais minha filha criando expectativas onde não existe.
...
Luan chegou de viagem dois dias depois e apareceu em casa, inesperadamente.
-O que você tá fazendo aqui?
-Vim ver a Malu.
-Agora lembrou que tem uma filha?
-Vai me deixar entrar?
-A Malu está na escola.
-Eu sei.
-Então volta mais tarde.
-Eu sei que daqui a pouco ela chega. Disse já entrando.
-Você não tem vergonha não? O encarei.
-Do que?
-Como do que? Prometeu que ia levar a menina pra chácara e nem ligou pra dar uma explicação.
-Minha mãe e minha irmã não foram. Eu sabia que você não ia deixar ela ir. Deu de ombros.
-E porque não ligou pra avisar? Tem noção de como ela ficou todos esses dias?
-Eu já voltei. E vim buscar ela pra ficar comigo agora.
-Agora? Ri irônica.
-É Jéssica, agora. Neguei e antes mesmo que pudesse continuar com aquela discussão, Malu entrou na sala fechando a cara assim que viu Luan sentado no sofá.
-Oi filha. Ele se levantou sorridente indo abraçar Malu, mas ela passou direto por ele e subiu para o quarto.
-O que foi isso? Ele parecia incrédulo e eu dei de ombros.
-Continua se afastando dela e vai ser daí pra pior.
-O que você anda falando pra menina pra ela me tratar dessa forma?
-Eu não falei nada Luan. São as suas atitudes que está deixando ela assim. Não vem colocar a culpa em mim não.
-Eu vou lá falar com ela. Subiu antes mesmo de me deixar falar qualquer coisa. Fiquei na sala esperando que Luan resolvesse alguma coisa com Malu e alguns minutos depois ele desceu.
-Ela não quer ir comigo. Disse sério e eu dei de ombros. -Se eu descobrir que você tá colocando minha filha contra mim eu não sei o que sou capaz de fazer.
-Presta atenção nas coisas que você fala. Alterei minha voz. -Você se afastou da menina e agora que ela está se afastando de você, vem colocar a culpa em mim?
-Ela nunca me tratou desse jeito. Tenho certeza que você anda fazendo a cabeça dela.
-É melhor você sair da minha casa. Pedi com o tom de voz mais baixo. Não queria assustar minha filha. -Quando a Malu quiser te ver eu dou um jeito de te avisar.
-Nem pense em afastar minha filha de mim.
-Não vou, desde que você se torne mais presente na vida dela e cumpra com o que promete. Do contrário vou fazer o que for possível pra ver minha filha bem. Mesmo que isso signifique ter que ficar longe de você.
Disse já abrindo a porta. Ele me encarou e podia ver que seus olhos ferviam, ódio talvez. Mas não estava me importando. Se minha filha não queria ficar perto dele, o melhor a fazer era mantê-lo longe.
Volteeeeiiii ÊÊÊÊÊÊÊ














Os ânimos estão alterados por aqui né minha gente. Só digo uma coisa.
A TENDENCIA É PIORAR !!!!